sábado, 4 de maio de 2013

1º de maio em algum lugar


Faixas pela cidade, anúncios e o boca a boca divulgavam um evento promovido pela gestão municipal em um bairro periférico, sendo um dos maiores eventos em comemoração ao dia do trabalhador que a cidade já teve.

Aglomerações, pessoas vindo de várias regiões da cidade, em pouco tempo o bairro é remodelado, barraquinhas, desvios do trânsito, cones, sinalizações realçadas. Tudo esta marcado para começar às 13h e algumas pessoas na expectativa de ver de perto o seu “ídolo”, encostam-se às grades que as separam do palco muito antes do show começar. O que era um campo de futebol virá uma grande arena de shows.

Inicia o mega evento, músicos representam as suas músicas, um show com um DJ eficiente que estava afinado com os artistas, quando percebia que o público entoava as canções, silenciava as caixas de som, e o povo fazia a sua parte, mas logo o playback retornava, cada artista ou banda encenavam 03 à 04 músicas.

Muitos passaram pelo palco e quando um número significante de expectadores se apertava na nova arena (por volta das 19h), inicia-se o plano arquitetado – O Palanque Político, vereadores, deputados, secretários e o gestor mor. Iniciam a falácia brasileira, discursos repletos de intenções e pretensões e ao andar no meio da multidão percebemos panfletos sendo distribuídos e muitos descartados, interesses de ouvir? Muito pouco, pessoas bebendo e conversando enquanto o microfone é rasgado pelas vozes empolgadas sobre as melhorias do governo e as novas possibilidades, mas qual era o motivo mesmo da aglomeração? Comemoração ao dia do trabalho, se é que há muito do que se comemorar, algumas coisas perdem o sentido e ainda sim a representação e as aparências são insistentes, só que o Palanque foi montado e o Showmício iniciado - Parafraseando um dito popular a oportunidade faz o político e nada como uma multidão para arrebanhar adeptos à administração ou a ações por ela orquestrada, o que para mim mais parece como um momento de auto justificativa, olha estamos aqui, caso tenha pensado que o governo esta omisso.

No palco - apresentações, elogios – rasgação de seda, todos são bons, as coisas estão nos seus melhores dias, e ouvi-los faz crer que nunca na história do país estivemos em tão boas mãos ou com tamanhas conquistas, a empolgação é tamanha que para visitantes distantes levados pelos discursos já começa a pensar em ser tornar um cidadão desta metrópole, mas se olhar o entorno do evento, perceberá que tudo esta muito distante de uma cidade desenhada e tão bem ilustrada. Basta acabar o evento e tentar ir embora e perceber que a frota no feriado é reduzida e que por um longo período não dará vazão às pessoas que dependem do transporte público para voltar a tradicional rotina. O que fica de tudo isso, aos moradores do bairro, além da sujeira (07 horas para realizar a limpeza do local), um vazio já que o show representa o sentimento mais latente nas realizações da administração pública, tudo é efêmero e sem efeito real, e a pergunta que fica: quem pagará este showmício?

domingo, 25 de novembro de 2012

Devaneios sobre o FunCultura em um dia qualquer de uma artista desvairada


"Absolutamente nada, além de um martírio inútil, poderia resultar de um confronto direto com o Estado terminal, esta megacorporação/ Estado de informações, o império do espetáculo e da simulação. Todos os revólveres estão apontados para nós. Por outro lado, com o nosso armamento miserável, não temos em quem atirar, a não ser uma histeria, num vazio rígido, num fantasma capaz de transformar todo lampejo num ectoplasma de informação, uma sociedade de capitulação regida pela imagem do policial e pelo olho absorvente da tela de tv."( Taz, pg17)

Ao passar pelo Bosque Maia nesta semana vi o início da decoração de Natal que é feita pela Prefeitura de Guarulhos e aí automaticamente pensei: cadê a verba do FunCultura?
            Você pode me questionar e dizer: o que o FunCultura tem a ver com a decoração de natal?
A princípio nada, apenas um devaneio, uma observação crítica que vem a partir da questão desta decoração.
            Pensei na atual política cultural da cidade, mais uma vez, que privilegia grandes acontecimentos e eventos como shows de cantores em evidência na mídia em detrimento de pesquisas na área cultura e de pequenos grupos de artistas. Sendo assim, a decoração de Natal é muito importante para manutenção desta política, por causa da visibilidade e beleza proporcionada pela superestrutura de iluminação utilizada. O Bosque Maia, o principal parque da cidade, com uma grandiosa decoração de Natal, com muitas luzes, enfeites e é claro o Papai Noel será visitado por todas as classes sociais e este acontecimento agradará a todos que no final do ano, com a vaga lembrança de ter vivenciado um ano eleitoral, terão a sensação de que realmente as coisas acontecem por aqui...
Neste ponto, surge o outro devaneio, ou melhor, alucinação dos artistas de Guarulhos: o FunCultura – Fundo Municipal de Cultura do Município! E surge a questão que não quer calar: a secretaria de cultura está muito ocupada com esta decoração e não tem tempo suficiente para convocar os Conselheiros do Fundo Municipal de Cultura e deliberar pela assinatura imediata dos contratos? Os proponentes aguardam ansiosos por esta atitude da Secretária de Cultura que, aliás, recebeu os méritos no ano passado pela excelente decoração de Natal que proporcionou aos cidadãos guarulhenses, já que o edital com os aprovados saiu no Diário Oficial de 12 de junho de 2012. E desde então nada, parece que só o que foi feito nesta cidade foi trabalhar para a reeleição do Prefeito Almeida. Um vazio... Um soluço... Um grito mudo... Um buraco.... E para finalizar, acho que o Papai Noel não passará nas chaminés das casas dos artistas de Guarulhos. Não temos chaminés! 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

UMA FOLHA DE SULFITE E A INSTABILIDADE DE UM GOVERNO - RELATO DE UMA AÇÃO EM DOIS


Na véspera da eleição para o 2º turno em Guarulhos, dois militantes integrantes de um grupo contemplado pelo FUNDO MUNICIPAL DE CULTURA, foram para uma reunião agendada por um vereador reeleito que contaria com a presença do atual prefeito e então candidato à reeleição. Percebendo a demora de sua presença na reunião e sabendo que no mesmo dia e horário haveria uma plenária do Partido dos Trabalhadores na Avenida Esperança (Nome sugestivo), resolveram antecipar-se e, na tentativa de uma breve conversa com o prefeito, seguiram para o endereço em questão. A rua estava fechada e ocupada pelos militantes e por um caminhão palco já com a presença de alguns candidatos eleitos, do Deputado Estadual Alencar Santana, da liderança do partido, apoiadores de coligações e o próprio prefeito.

Os dois, vendo que seria difícil conseguir atenção do prefeito, escreveram em uma folha de sulfite os seguintes dizeres: “Prefeito cadê o $$$ do Funcultura??”. Com esta “placa” em mãos seguiram entre os militantes até a frente do palco. E, para perguntas de pessoas que vestiam o vermelho e bradavam apoio ao então candidato a reeleição, a resposta era: “Somos artistas e até agora não recebemos a verba que nos é garantida por direito” – “Viemos cobrar o prefeito sobre a verba que até agora não foi paga” – “Você sabe onde está? Nem eu?”.  Então, os dois militantes da cultura foram avançando até a frente do caminhão palco e, chegando lá, encontraram militantes de um sindicato que vestiam preto e que, logo de inicio se incomodaram com a pequena manifestação de cobrança ao prefeito que focava o palco.

Diante de algumas tentativas de intimidação, esses senhores empurraram e batiam com suas bandeiras nos dois e entre conversas e desavenças, um deles retirou a “placa protesto”, amassou o papel e jogou fora. Sendo questionado pela atitude de pessoa ligada a um sindicato, acostumado a reivindicações, um pequeno tumulto tomou conta da plenária e ameaças de espancamento: “Sua sorte é que estamos aqui, reza para eu não te encontrar fora daqui” – “Melhor vocês saírem. É melhor para vocês” – “Vocês vão apanhar aqui”. Enquanto palavras de ameaças eram proferidas empurrões e tentativas de retirada do local eram feitas, alguém no microfone pediu calma. Mas, enquanto isso outras ameaças foram ditas e, quando retrucados sobre a possibilidade de chamarem a polícia, respondiam: “A polícia está com nós. A polícia é PT”.

Depois de algum empurra-empurra, alguém no caminhão começou a dizer que a oposição estava na frente do caminhão tentando desestabilizar a plenária, mas que esta atitude era o desespero de quem estava com medo de perder a eleição. Todos do caminhão tinham conhecimento da placa, pois ficou bem visível a todos. (Consideramos uma atitude irresponsável de quem estava ao microfone com tais palavras).

Depois um militante do PT, foi “apartar” a movimentação, chamando ambos para uma conversa fora e, depois de expor as questões que motivaram esta ação, fez menção de uma conversa com o prefeito, para que o mesmo desse uma posição aos artistas.

Entre esperas e olhares dos militantes do sindicato, Adriana Farias apareceu, segundo ela, a pedido do prefeito para entender melhor os fatos e acalmar os anseios dos artistas sobre o Funcultura.

Ao término da plenária, Adriana informou-lhes que o prefeito iria falar com eles e, na aproximação do prefeito, um grupo de militantes do sindicato encostou-se nos dois, reafirmou as ameaças e começou a impedir a fala com o prefeito. – “Vocês não vão falar com o prefeito, é melhor vocês saírem daqui, senão o negócio vai feder para vocês” - “Saiam daqui é o melhor que vocês fazem”.

Quando um dos artistas relatou as ameaças à Adriana, o militante do sindicato logo retirou a fala. O artista foi enfático ao afirmar que eles estavam, sim, ameaçando e no término da fala do artista à Adriana, começaram novamente os puxões e empurrões e a gritaria retornou. Ambos os artistas e a própria Adriana foram ameaçados, entre os pedidos de calma do prefeito que, ao estender sua mão ao artista, ouviu dele o que realmente estava acontecendo. “Prefeito, somos artistas. Estávamos aqui com uma placa cobrando do Senhor o pagamento do Funcultura”. A Resposta: “Pode deixar: eu cuidarei pessoalmente disso na semana, é o meu compromisso com vocês”, sendo logo puxado pelos “companheiros”.

Os dois artistas foram abordados por alguns dos militantes do sindicato. “Você me disse sobre sermos do sindicato, só que quando queremos falar ou reivindicar algo, marcamos com o patronal. E não chegamos assim, sem avisar ou marcar nada, invadindo” Resposta dos artistas “Vocês conseguem agendar uma conversa com o prefeito quando desejam reivindicar algo? Faz tempo que estamos fazendo cobranças sobre este Fundo, já tentamos várias conversas e não conseguimos”. Outro militante abordou dizendo que deveriam ter avisado que eram artistas, pois pensavam que era a oposição. Os artistas responderam que isto era dito toda hora, mas que eles nem queriam ouvir. Outro apareceu fazendo novas ameaças.

Estes artistas saíram acompanhados da Adriana até certa distância da plenária na tentativa de não serem seguidos e possivelmente agredidos.

Perguntamo-nos: se este episódio tivesse a presença de todos os contemplados do Fundo? E se artistas da cidade, buscando a transparência nos investimentos da cultura, tivessem se mobilizado com os contemplados, o que aconteceria? Dois militantes provocaram alvoroço. O que não seria se a massa artística guarulhense estivesse presente?

Resta saber se nesta cidade cobranças, questionamentos e/ou críticas serão censurados ou até mesmo “castigados”.  Se isso virar prática podemos realmente dizer que vivemos em uma ditadura branca, agenciada por um governo que grita aos quatro ventos sua luta contra a ditadura militar. Moldes foram aprendidos e repaginados.

P.S Este relato é a forma que encontramos para garantir a integridade dos Artistas. Ameaças foram feitas e precisam ser reveladas.

Taz Guarulhos

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

À ESPERA DE UM MILAGRE


Continuamos esperando Godot... Estamos no segundo ato... A árvore ganhou folhas e Godot mudou de nome... No primeiro ato ele foi chamado de Fomento ao Teatro e à Dança... Agora ele se chama FUNCULTURA...

Os projetos a serem contemplados com recursos do FUNCULTURA foram escolhidos no início do mês de junho. A partir dessa escolha, todas as providências foram tomadas para que os documentos dos proponentes fossem entregues e o processo caminhasse com a celeridade e a importância que tem (apesar de que, para algumas pessoas, isso parece ser apenas uma brincadeira ou uma propaganda de autopromoção). Hoje, final de setembro, o processo encontra-se parado, há mais de um mês, na Secretaria de Governo, sem nenhuma explicação e sem nenhum motivo, uma vez que todos os trâmites jurídicos e financeiros já foram percorridos... Quem pode cobrar uma explicação? Os proponentes?... Os cidadãos?... Deixando de lado as obviedades dessa democracia capenga que temos no país, vamos nos restringir à lei:

        Art. 3º Compete ao Conselho Diretor:

I - administrar e promover o cumprimento da finalidade do FunCultura;
...
V - estabelecer normas e diretrizes para a gestão do fundo;
...
IX - aprovar os planos de aplicação de recursos;
...
XI - autorizar as aplicações financeiras dos recursos do FunCultura.

(retirado do decreto nº 22329 / 2003, que dispõe sobre a regulamentação da lei do Funcultura)

E tudo isso tem um prazo...


Art. O Conselho Diretor se manifestará sobre as matérias que lhe forem submetidas, no prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período, a contar do recebimento, salvo atraso justificado pela alta complexidade da matéria a ser analisada.

(retirado do mesmo decreto)

Não existe alta complexidade em um assunto que já está resolvido... E mesmo que existisse, onde está a justificativa?... O mais curioso é que, quando procuramos alguns membros do Conselho Diretor do Funcultura, para questionar sobre as providências que o mesmo está tomando, ouvimos que nesse instante existem prioridades maiores... Quais são essas prioridades? Parece que estão relacionadas à eleição de alguns candidatos a vereador e à própria reeleição do prefeito... Mas espere um pouco... A prioridade não deveria ser o funcionamento do programa?... Confesso que busquei, tanto no decreto já citado, quanto na lei que o mesmo regulamenta, e não encontrei entre as atribuições dos membros do Conselho Diretor, nada que pudesse indicar que os mesmos devem ter como prioridade alguma atividade eleitoral.

E seguimos esperando Godot... O dia já está quase no fim... As folhas da árvore talvez voltem a cair... A vontade é de se enforcar nos galhos... Mas a corda pode arrebentar...

A última reunião do Conselho Diretor do Funcultura, segundo informações, foi no dia 05 de julho... Ainda segundo informações, o Conselho deve se reunir uma vez por mês e o membro que faltar a 3 reuniões consecutivas ou 6 intercaladas, perde o mandato... Por que tantas informações?... Qual a relação delas com a situação?...

Apenas como exercício de reflexão: o Conselho deveria cuidar do problema do processo parado inexplicavelmente... Para isso ele deve se reunir... Quase todos os membros estão envolvidos com essas prioridades maiores... E por isso não se reúnem desde julho... Ou a minha matemática está equivocada ou, caso não haja uma reunião do Conselho Diretor do Funcultura até o dia 05 de outubro, todos os membros do mesmo devem perder seus mandatos, uma vez que todos eles terão faltado a 3 reuniões seguidas, que deveriam ser realizadas e não foram...

Bom, são apenas reflexões de alguém que não suporta a imobilidade generalizada que toma conta da estrutura da máquina pública em época de eleição... As secretarias estão às moscas... Muitos funcionários estão trabalhando, descaradamente, nas campanhas, enquanto a cidade está parada... Até quando vamos considerar naturais coisas que são absurdas?... Até quando vamos esperar Godot?...

O dia acabou... Godot não veio... Pozzo fez operação de mudança de sexo e parou de comer pastéis... Agora ele come de tudo... Ou não come nada... Os garotos de recado riem da nossa cara e só nos resta procurar um lugar para descansar... Mas no dia seguinte, continuaremos, passivamente, a esperar... E Godot nunca virá...

Quem sabe?... Milagres acontecem...

terça-feira, 17 de abril de 2012

TRATADO DE PALAVRA E MOVIMENTO


Felipe Cirilo
Graduando em Licenciatura em Dança, pela Faculdade Paulista de Artes.

Resumo

Este artigo pretende levar à reflexão e propõe a visualização de diferentes caminhos possíveis para o sujeito intérprete externar o que houver de mais interno em seus diversos âmbitos de criação e relação criativa: bailarino, ator, personagem, performer. Deve-se considerar a amplitude dessa tensão interna, em particular nas artes cênicas contemporâneas, posto que – ao criar a partir desse interior – surgem muitos conflitos e dificuldades sensoriais e metafísicas de grande valia ao criador de movimentos. Neste artigo veremos como toda a potência interna e subjetiva do intérprete pode preenchê-lo de conteúdo expressivo. Este estudo visa a compreender e identificar as maneiras como se mantém essa tensão o mais próximo de sua existência bruta, sem lapidações rotineiras e automáticas.

Palavras-chave: Bailarino, ator, intenção, expressão.

TREATY OF WORDS AND MOVEMENT

Abstract
This article aims to lead to reflection and proposes the visualization of different possible approaches to the subject interpreter voicing what there is more domestic in its various spheres of creation and creative relationship, dancer, actor, character, performer. One must consider the extent of internal tension, especially in contemporary performing arts, since - to create from this interior - many conflicts and difficulties arise and metaphysical sense of great value to the creator of movement. In this article we will see how all the power of the internal and subjective interpreter can fill it expressive content. This study aims to understand and identify the ways in which this tension is maintained as close to its brute existence, no stonings routine and automatic.
Keywords: Dancer, actor, intention, expression.

Introdução

O conceito de intensão é o fundamento que impulsiona a reflexão deste artigo.
O conceito de intensão abre um território que pode ser extremamente importante para o entendimento de alguns processos perceptivos e subjetivos do ser humano, os quais podem ser explorados, consequentemente, pelo intérprete. A importância de tal conceito se dá, portanto, na medida em que nos faz perceber a existência de diferentes níveis de articulação pessoal no sujeito. De fato, ainda segundo Dennett a “intensão” envolve uma capacidade específica, que é aquela de “fazer discriminação de granulação fina de modo indefinido”. Ou seja, o processo intensional surge na medida em que articulações profundas são desencadeadas no corpomente do sujeito. (BONFITTO, 2005)
[...]

Quanto ao título “Tratado de palavra e movimento”, a palavra “tratado” é usada não no sentido contratual de negócio fechado ou de acordo, nada absoluto, mas no sentido de refletir sobre o tratar daquilo que vive na expressão cênica, chama-se a atenção para a maneira como é tratado o que está como força motriz do sujeito que se coloca em cena, ativando-o sensorialmente, é esta força que, empregada de inúmeras tensões e influências as quais traz conflito, até ebulição, que visualiza-se como um impulso materializado na ação do intérprete, a intensão, o impulso artístico tratado singularmente pelo artista, seja pelas palavras ou pelo movimento. O objetivo é: através da reflexão sobre estes tratamentos contribuir para uma das grandes questões na arte contemporânea: a expressão.
Intensão, aqui como tensão interna, como impulso originalmente dialético, baseado no que afirma Bonfitto (2005) ao relacionar intenção ao esquema: sentido e significado, ou signo.

De fato, pensar sobre os processos intensionais nos ajuda a compreender, por sua vez, os processos de instauração de sentido. [...] instaurar um sentido tem como resultado a produção de signos não traduzíveis ou que oferecem uma zona bastante restrita de decodificação. Desse modo, os processos intensionais adquirem um valor específico, na medida em que nos fazem perceber um caminho, nos mostram a existência de possibilidades que podem estar envolvidas no processo de instauração de sentido. (BONFITTO, 2005)

Esse expressar da intensão ganha caminhos particulares ao tratar de movimentos.


Discussão

Tome-se como referência dança e teatro, e nestas duas vertentes cênicas de Arte, contidos: esperança e prazer. Esperança contida no ato de comunicar, que pressupõe a esperança de ser “ouvido”, realizar uma comunicação; e o prazer, como habitante desse ambiente em que se realiza o expressar da intensão.
Tomemos o prazer primordialmente como habitante do corpo, baseado na circulação do sangue, hormônios e outros fenômenos orgânicos. Brecht afirma:
Mas o teatro pode proporcionar-nos prazeres fracos e prazeres intensos (complexos). Os últimos surgem-nos nas grandes obras dramáticas e desenvolvem-se até alcançarem um apogeu, do mesmo modo que o ato sexual, por exemplo, alcança sua plenitude no amor; são mais diversificados, mais ricos em poder de intervenção, mais contraditórios e de conseqüências mais decisivas. (Brecht, 1978)

Brecht, aqui se refere ao prazer que é provocado pela ação cênica, no caso o teatro, ou seja, um prazer que habita o espectador. O que este artigo ressalta é o prazer do intérprete criador, que se encontra na intensão externada que, se comunicada de maneira pura, encontra-se com o prazer do espectador. A partir do momento em que a tensão interna é exteriorizada em palavras, ela caminha pelo esôfago, pregas vocais, faringe, língua, boca e é encerrada em uma palavra, que não se realiza comunicativa e claramente se solitária, portanto mais tensão é necessário ser exteriorizada, a fim de produzir mais palavras – para pleno entendimento do ouvinte/espectador (MALANGA, 1985). Se, ainda assim, não se concretizar a comunicação, que é o ato que nasce na esperança do emitente, a intensão continua a ser saturada em um violento filtro de intelecto racional que, por sua vez, estabelece uma estrada de razão, percorrida até a absorção do espectador, esbarrando e se modificando em meio a razões sociais, também já preestabelecidas em palavras. Ou seja, o prazer é posto a caminhar num plano bastante diferente do seu natural: dentro do corpo. “emigrar do reino do aprazível” (Brecht, 1978).
Não afirmo aqui a morte do prazer no ato de particionar intenção encerrando-a em palavras. Encerra-se a intensão, inicia-se a palavra, são estradas diferentes. Imagine que para ir até a casa de seu vizinho, em vez de pular direto da sua janela para a janela dele, você caminhe até a sua porta, caminhe pela calçada até a porta dele e entre; ou saia de sua casa entre num carro, dirija até o aeroporto, embarque num avião que decola, voa, pousa, então você dirige outro carro até a casa dele e entra. Nessa situação mais extrema e aventureira, o prazer pode permanecer, porém ganha diferentes informações e forças, é combinado, refinado até completar a sua comunicabilidade.
Voltando ao habitat natural e original do prazer, o corpo, ressalte-se a capacidade de comunicar sem o uso da fala. Os instintos proporcionam movimentos, os quais nem chegam a passar por determinadas regiões de raciocínio do cérebro, são “preeducados”, e isso desde um simples espirro até um levantar e fechar a porta por sentir frio, movimento espontâneo e puro de intensão.
A intensão se faz visível em qualquer movimento ou parte do corpo. É importante lembrar que, de diversas maneiras, o expressar corporal já foi codificado, desde estudos de linguagem corporal, técnicas de dança, mímica, até libras.
Subjetividade. No momento em que a comunicação abre mão de códigos, ela deixa de ser objetiva de maneira comum e passa a existir subjetivamente, ela se passa no íntimo do sujeito, assim os movimentos abrem janelas no corpo e expõem a intensão no ser que se move.
Aqui, a reflexão proposta por este artigo, alcança sentido humanamente artístico. Esse ato de abertura nada mais é que o fluir da intensão livremente em seu próprio habitat e o ato de aceitar a maneira como, natural e diretamente, a intensão é impulso relacional do próprio corpo, é o que o faz mover, a relação do impulso e o resultado no movimento, quanto maior o impulso maior o movimento, mais tonos há nele.
A intensão tratada pelos movimentos pode não saltar da própria janela para a janela do espectador, o que pode agressivamente impossibilitar o ato da comunicação, porém a presença dos movimentos e o abrir das janelas lidam com um espectador ativo.
A maneira e a potência que o movimento tem de estabelecer a comunicação subjetiva são, por muitas vezes, motivo de conflito, não só na dança, mas também com relação às diferentes maneiras e potências usadas hoje, na arte contemporânea em geral. Essas diversas formas de expressão ganham dimensões que podem colocar a intensão em um barco a deriva, em alto mar e, se possível, engolida por um tubarão, seriamente corre-se esse risco. O menor risco está na sinceridade artística dos movimentos para com a intensão, que nada mais é que o impulso humano original.
Voltando ao expectador ativo, este também possui o seu impulso humano original e seu prazer, ele procura receber, recepcionar, mas o seu impulso também pode fazê-lo compartilhar, não no corpo físico, nem no campo das palavras, mas exaltar sentimentos, memórias, experiências próprias e pensamentos que constituem a manifestação artística, o ritual chamado espetáculo, em que a intensão do corpo cênico em seu estado mais puro, se expõe e faz expor, num diálogo sem palavras, em que a esperança é realizada, e o prazer é multiplicado.


Conclusão

Humanamente artista. A dialética que surge às luzes do sentido exposto por Bonfitto (2005), é que naturalmente vai colocar em atividade as diversas opiniões do artista preenchido de conteúdo expressivo e de uma energia (que se pode considerar, quase que holisticamente, a energia vital de qualquer ser humano) singular em sua essência, existente em diferentes amplitudes, sem aferir caráter qualitativo.
Em outras palavras o artista passa a buscar referências em sua própria existência humana que de fato é única; logo, nova, a partir de qualquer concepção já criada.


Bibliografia
BONFITTO, Matteo. Sentido, intensão, incorporação: primeiras reflexões sobre diferentes práticas interculturais no trabalho do ator. 2005. Disponível em: http://www.eca.usp.br/salapreta/PDF05/SP05_02.pdf acesso em 14/03/2012.
BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro. Tradução de Fiama Pais Brandão. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1978.
MALANGA, Eliana. Comunicação e Balê. Editora Edima, 1985.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Moção de repúdio dos Trabalhadores da Cultura à política do coturno em Pinheirinho

De um lado, pelo menos 1.600 famílias que lutam pelo direito de morar no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), ocupação que tem oito anos de existência. Do outro, mais de 2.000 policiais militares e civis cumprindo ordens da Justiça Estadual e da Prefeitura de São José dos Campos, em favor da massa falida da empresa Selecta, pertencente ao mega-especulador Naji Nahas.

Ainda que não houvesse outras circunstâncias agravantes no caso, já seria possível constatar que as instâncias dos poderes executivo e judiciário fizeram a opção, em Pinheirinho, pela lei que protege a especulação imobiliária, em detrimento do direito das pessoas à moradia.

Vence mais uma vez a política do coturno em prol do capital. De um lado, bombas, armas, gases, helicópteros, tropa de choque. Do outro, dois revólveres apreendidos. Não há notícia de que tenham sido usados. Uma praça de guerra é instalada - numa batalha em que um exército ataca civil.

Não há plano de realocação das famílias. As que não conseguiram ou não quiseram fugir, ou receberam dinheiro para passagens para outras cidades, ou estão sendo mantidas cercadas, com comida racionada, como num campo de concentração. A imprensa não pode entrar no local, não pode fazer entrevistas, e os hospitais da região não podem informar sobre mortos e feridos. O que se quer esconder?

O Governo do Estado lavou as mãos diante do caso, assim como o Superior Tribunal de Justiça. O Governo Federal tardou em agir. A chamada "função social da propriedade", prevista na Constituição Brasileira, revelou-se assim como peça de ficção, justamente onde a ficção não deveria ser permitida.

Mais uma vez, o Estado assume o papel de "testa de ferro" para as estripulias financeiras da "selecta" casta de milionários e bilionários. A política do coturno em prol do capital vem ganhando espaço. Assim está acontecendo na higienização do bairro da Luz, em São Paulo , preparando-o para a especulação imobiliária; assim vem acontecendo na repressão ao movimento estudantil na USP, minando a resistência à privatização do ensino; assim acontece no campo brasileiro há tanto tempo, em defesa do agronegócio. Os exemplos se multiplicam. E não nos parece fato isolado que, hoje, a quase totalidade dos subprefeitos da cidade de São Paulo sejam coronéis da reserva da PM.

Nós, trabalhadores artistas, expressamos nosso repúdio veemente a esse tipo de política. Mais 1.600 famílias estão nas ruas: a lei foi cumprida. Para quem?

ENTIDADES E MOVIMENTOS PARTICIPANTES:

Avoa núcleo artístico
Brava Cia de Teatro
Cia. Buraco D´Oráculo
Cia Antropofágica de Teatro
Cia Estável de Teatro
Cia Ocamorana de Teatro
Grupo Teatral Parlendas
Cia São Jorge de Variedades
Cooperativa Paulista de Teatro
Dolores Bocaaberta Mecatrônica
Estudo de Cena
Kiwi Companhia de Teatro
Movimento de Teatro de Rua
Movimento dos Trabalhadores da Cultura
Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo
Roda do Fomento
Trupe Olho da Rua – Santos – SP
Núcleo do 184
Trupe Sinhá Zózima
A Jaca Est
Grupo Redimunho de Teatro
Coletivo Núcleo 2
Juliana Rojas (Filme: Trabalhar Cansa)
Atuadoras
Paulo Fabiano - Teatro X
Companhia Auto-Retrato
Egla Monteiro - Companhia de Solistas, São Paulo
Gyl Giffony - Grupo 3x4 de Teatro - Fortaleza/CE
Herê Aquino - Grupo Expressões Humanas - Fortaleza/CE
Cia da Revista
Cia. Crônica de Teatro - Contagem – MG
Wilson Honório - Movimento Quilombo Raça e Classe
Trupe Artemanha de Investigação Urbana
Rede Brasileira de Teatro de Rua
Companhia do Feijão
Grupo Teatro de Caretas - Fortaleza – CE
Cia Corpos Insanos
TAZ Guarulhos

VÍDEO COM A LEITURA DA MOÇÃO DE REPÚDIO
http://www.youtube.com/watch?v=p2OayXHRfm8&feature=youtu.be

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Aprendendo a dizer não!

Aprendendo a dizer não

Não há escolas para aprender a dizer não!
Tudo que nos ensinam é para não dizer sim!

Na verdade aprendemos a dizer não para dentro e sim para fora!

Ensinam a calar
Então vamos dizendo sins com teores de nãos!

Dizemos nada!
Impôs se tudo!

Dizer não!
Dizer sim!

Dizer nada e se calar!

Então respiramos fundo!
Encontramos a solução

Aprender a dizer não é a solução!
Não!
Não!

Até para quem precisa ouvir sim!

Se existisse escolas para dizer não
iríamos todos querer aprender a dizer sim!

Talvez não seria a opção!

E quando o não quer dizer sim!?
E quando o sim quer dizer não!?
E quando o talvez diz sim e não lhes desdizendo!?

Somos cruéis!

As primeiras vítimas do não são os que achávamos que só falaríamos sim!

Somos incongruentes!
O encontro é o eterno desafio de também não encontrar!

Dizes não!
Dizes sim!

O silêncio engolido e sempre um engasgo!

Aprendemos mesmo a dizer não!
Não para para dentro!

Quando pensamos que devemos aprender a dizer não para fora
achamos que o problema está fora e sempre alheio!

Dizer sim para dentro é mais difícil do que dizer não para si!
--
Antonio Sobreira

Visitem os Blogs
http://regodogorila.blogspot.com/

http://federacaoprudentinadeteatro.blogspot.com/
http://www.obradasdacultura.blogspot.com/
http://educanarquista.blogspot.com/

Tel (18) 4101 0330 /96295852

sábado, 12 de novembro de 2011

CERTIDÃO DE NASCIMENTO OU ATESTADO DE ÓBITO?

Roman Lopes *

A segunda maior economia do Estado e uma das maiores do país tem um dos maiores índces de pobreza... Tem o maior aeroporto do país e um dos maiores da América Latina, mas o tem um sistema de transporte público que seria cômico, se não fosse trágico (desculpe Dürrenmatt, mas eu não poderia perder a oportunidade)... Uma metrópole com mentalidade provinciana... Um parque industrial controlado por coronéis... Enfim, uma terra cheia de contradições... Isso é Guarulhos... Nessa terra de poucos alguéns e muitos ninguéns a Arte e as manifestações culturais em geral não poderiam seguir por um caminho muito diferente: o da piada de mau gosto...

A nossa Secretaria de Cultura é um palácio de espelhos, plantado em um dos cantos de um centro cultural que parece um gigante adormecido... Não é à toa que se chama Adamastor (Camões deve estar se revirando no túmulo)... Os habitantes desse lugar parecem almas penadas, vagando sem rumo e sem saber o que fazer, somente esperando as ordens do todo poderoso Sr. Hélio Arantes, o secretário de cultura, um neoliberal metido a bolchevique e um filósofo de fotonovela... Enfim, um personagem de uma grande tragédia ou de uma comédia pastelão (o termo cai bem à figura)... O grande problema é que nesse espetáculo ele é o protagonista...

Guarulhos tem o FUNCULTURA, um fundo municipal que financia atividades culturais. O dinheiro destinado anualmente a esse fundo é ridículo... Equivale a aproximadamente 3% do orçamento da Cultura e deve atender a todas as atividades culturais do município, incluindo todas as linguagens artísticas e as ações relacionadas ao patrimônio cultural... Nessa conta só não entram as atividades de marketing político e as ações relacionadas à indústria cultural. Para isso existe bastante dinheiro (foram gastos vários milhões de reais em aluguel de equipamentos de som para shows. Aliás, um show, com duração de aproximadamente 50 minutos, de uma celebridade da indústria cultural custa quase a mesma coisa que a verba anual destinada ao FUNCULTURA)...

Guarulhos tem uma Lei de Fomento ao Teatro e à Dança, aprovada no final de 2009... Só que a lei só existe no papel... Isso já foi motivo para manifestações dos artistas da cidade, abaixo-assinado, denúncia no Ministério Público, arquivamento... Uma série de atos e fatos... E o Sr. Todo Poderoso Hélio Arantes, no alto do palácio de espelhos, resolveu depois de muita briga e muita indiferença, contar mais uma de suas piadas pseudo-socialistas (essa é mais uma das características desse personagem grotesco): resolveu atrelar a verba do FUNCULTURA à Lei de Fomento, usando o argumento de que a lei permite isso... Mas o dinheiro já não era pouco?

Em meio a esse cenário surreal, surge um grupo... Ou um coletivo... Ou um bando... Ou... TAZ (Zona Autônoma Temporária, em inglês, of course...), que poderia muito bem ser realmente um demônio ou um personagem de desenho animado... A TAZ não tem forma, cor, credo, opção sexual ou política... É a reunião de pessoas, nesse caso específico de artistas, que têm um objetivo: falar e fazer ARTE... Para isso, fazemos reuniões, rodas de conversas, encontros, manifestações públicas... Até já servimos café para as pessoas na rua... Conseguimos algumas coisas nessa nossa curta existência de pouco mais de um ano... Fizemos um abaixo-assinado importante, instauramos um inquérito contra o secretário de cultura, saímos na imprensa, conseguimos ser recebidos pelo Todo Poderoso e até por outros políticos da cidade...Viramos quase celebridades... Mas não é nada disso que queremos... O que as pessoas que fazem parte da TAZ querem é somente poder ver a Arte acontecer nessa cidade, tão carente de perspectivas e tão cheia de sujeiras (haja tapete para varrer tudo isso para baixo)... Queremos que exista nessa cidade uma política cultural verdadeira, destinada a oferecer à população o acesso real à Arte e aos artistas condições reais de exercerem suas atividades... Será que isso é pedir muito?

Esse é o documento dessa cidade chamada Guarulhos... Só não sabemos se esse documento representa a nossa vida ou a nossa morte... Isso só o tempo dirá...

* Roman Lopes é artista e um dos integrantes da TAZ.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

cadê você Prédio ou Magritte?

Onde estará você, prédio novo da unifesp?
ou será que Magritte renasceu?
ou será que suas obras de fato, passaram a existir?
venha você também conhecer o novo prédio da UNIFESP

domingo, 2 de outubro de 2011

A força sem a destreza é uma simples massa

Palavras que saltaram depois do último "Encontro Livre de Artistas de Guarulhos".

Quantas coisas são necessárias para surgir uma ação?
Quais são os pensamentos e forças aplicadas?
Cada uma destas supostas “forças” podem ser isoladamente inventadas, treinadas e cultivadas. Ao criticar e questionar quem detêm o ‘poder’ é uma situação privilegiada. O que dispensa privilégio é a inquietação de algo que está por fazer - na iminência de acontecer. O poder de um lado ou de outro – é poder. Na tentativa de sanar a ansiedade, corre o risco de reproduzir quase tudo aquilo que se critica. Na doença, o óbvio é ir atrás de fórmula pronta - mas, veneno também cura!
Seguir vivendo é perigoso demais?
São extremos que estão ali, onde a capacidade de visão já não enxerga a originalidade de um pequeno impulso por causa de sua extrema sutileza.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Videos do Primeiro Encontro Livre de Artistas de Guarulhos




TAZ apoia: Mostra Independente de Dança em Viçosa-MG









Qualquer semelhança com fatos reais terá sido mera coincidência ?!! ...


Antonio Sobreira, de Presidente Prudente

Texto que escrevi e postei no blog logo que cheguei da Funarte:

Este relato servirá ao debate com cidades do interior interessadas em realizar um plano de cultura com pautas específicas para o interior. Os amigos de Sorocaba, Osasco, Ribeirão Preto, Araçatuba, São José do Rio Preto, Santos e Campinas são os primeiros a se aproximar dessa necessidade. Outros iniciarão esse processo e se aliarão para apresentar demandas e análises qualificadas para exigir, tanto do SEC quanto do Minc, uma proposta adequada às nossas realidades interioranas.

Nossa primeira entonação é que a destinação de verbas para a cultura tem compromisso com programação cultural, efetivação de eventos e ações pontuais. Distinguimos essas programações por não provocarem desenvolvimento cultural.
Anotamos ainda em tópicos outros fatos da gestão local que atrasam a efetivação de nossas potencialidades:

1 – descontinuidade de ações;
2 – injeção de recursos em eventos superior ao investimento na classe artística local;
3 – acentuação de recursos para programação cultural e desprezo por fomento, formação e memória;
4 – recusa a estabelecer processos profissionalizantes de agentes e atores culturais públicos, privados, individuais e coletivos;
5 – programas e ações que não são debatidos em fóruns ampliados formais ou representativos, o que denominamos de ação personificada;
6 – insistência na oferta de recursos de balcão, que escolhe aliados para sua destinação;
7 – recusa a criar lei de cultura e definição orçamentária para sua realização;
8 – metas e planos desconhecidos ou falsamente espontaneístas;
9 – recusa de avaliação externa e interna sobre a efetivação das ações;
10 – tendência a realizar ações que dividem a classe artística;
11 – resistência a aceitar grupos, formalmente organizados ou não, que lutam pela cultura;
12 – manipulação de agendas dos espaços públicos e criação de impedimentos e dificuldades para solicitá-los;
13 – falta de prestação de contas das ações, dos fundos e orçamentos destinados às ações culturais;
14 – recusa a trabalhar em rede com MinC e SEC;
15 – construção de dados forjados sem apresentar métodos e composição de índices;
16 – ausência de concurso público para servidores qualificados em gestão cultural;
17 – montagem de equipes com exagerado número de cargos de confiança;
18 – falta de avaliação e adequações de ações da SEC (Virada Cultural, Projeto Ademar Guerra, Circuito Cultural, Mapa Cultural, ProAC, etc) da parte dos atores culturais, quando essas são ligadas ou co-gestadas pelo poder local.

Nosso intuito é que esse debate municipal (não seria estadual ?) receba força de outros companheiros e delimitações que aqui foram esquecidas. Sugiro aos interessados acessar nesse mesmo blog (em que este texto foi originalmente postado, cujo link segue abaixo) o Plano Paralelo de Política Cultural para Presidente Prudente e Região.

--

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Artistas denunciam abandono da Cultura na cidade


O Orçamento da Secretaria de Cultura para este ano foi aprovado em mais de R$ 16 milhões, com destinação de quase R$ 12 milhões para o desenvolvimento e implementação das ações culturais, entretanto, artistas da cidade denunciam o abandono da administração desses recursos pela pasta, e a falta de política pública e projetos consistentes para a cultura da cidade.

“Estamos preocupados com a maneira com que se tem encaminhado a cultura na cidade. A situação é complicada, a classe artística e as produções culturais estão falindo”, disse o diretor de teatro Luciano Gentile, que vê com preocupação o direcionamento que a secretaria dá para o termo ‘ação cultural’, atualmente voltado essencialmente para a realização de eventos e shows, normalmente com ícones da indústria cultural, como a cantora Cláudia Leite, convidada para realizar, por R$ 347 mil, show de inauguração do Centro de Educação Unificado (CEU) Paraíso.

Os artistas pedem programas que realmente incentivem a produção artística e cultural de forma contínua, e não pontualmente, apenas com a disposição de espaços públicos para apresentações e divulgação do trabalho de artistas locais.

“A Prefeitura até tem um programa de oficina, mas está cada vez mais sucateado. A Escola Viva foi fechada. Não temos perna para tocar sozinhos, afinal para manter não basta amor à arte”, comentou o ator Franklin Jones.
Profissionais da arte temem Plano Municipal de Cultura

O ator Franklin Jones, o diretor de teatro Luciano Gentile e a atriz Pamela Regina apontam falhas da Secretaria de Cultura que podem criar uma visão distorcida da realidade vivenciada pela classe artística na cidade e um Plano Municipal de Cultura defasado.

A Prefeitura de Guarulhos aderiu ao Plano Nacional de Cultura e deve elaborar metas de dez anos para o desenvolvimento da cultura na cidade, porém, Jones, membro do Conselho Municipal de Cultura, alerta que grupo deveria ser o responsável por intermediar a elaboração do documento com a comunidade, mas desde janeiro não são realizadas reuniões que deveriam ser bimestrais.
“Não adianta apenas construir teatro, como estão previstos mais três, sem uma política efetiva de cultura, sem achismo”, disse.

Verba do FunCultura é insuficiente e mal-utilizada, relata diretor de teatro
Para os artistas da cidade, a verba destinada ao FunCultura, R$ 620 mil em 2011, é pouco para só ele contemplar um ano de atividades de diferentes linguagens: música, artes cênicas, artes visuais, literatura, cultura popular e patrimônio histórico.

Segundo o diretor de teatro Luciano Gentile, mesmo assim, ao ser questionado sobre a implantação da Lei Municipal de Fomento ao Teatro e à Dança, o secretário de Cultura, Hélio Arantes, teria afirmado que usaria o restante da verba do Funcultura para iniciar o programa de fomento e tentaria ampliação do fundo para financiá-lo.
“Foram habilitados 28 projetos para o Funcultura, mas apenas 13 foram contemplados, nenhum de teatro ou dança. Se há verba, porque não contemplar os demais habilitados?”, questiona Gentile.

Ministério Público abre inquérito e cobra utilização da Lei de Fomento
Criada em 2009, e publicada no Diário do Município de janeiro de 2010, a Lei n° 6628/09 institui o Programa Municipal de Fomento ao Teatro e à Dança para a cidade de Guarulhos, entretanto, a Secretaria de Cultura não publicou o edital do programa.

Após abaixo assinado do TAZ Guarulhos (Zona Autônoma Temporária), formado por grupos teatrais e artistas independentes, com mais de 2.500 pessoas, o Ministério Público fez representação e abriu inquérito contra a Secretaria de Cultura e a Prefeitura de Guarulhos pelo não cumprimento da lei.

De acordo com o ator Franklin Jones, em reunião no dia 2 de agosto, o secretário de Cultura, Hélio Arantes, afirmou que não colocava em prática a lei porque geraria discórdia entre a classe artística não enquadrada na lei, e que para implantar o Programa de Fomento não criaria um fundo específico, mas utilizaria o FunCultura.

Classe artística denuncia também perseguição
De acordo com o escritor e jornalista Castelo Hanssen, além da falta de projetos, a Secretaria de Cultura tem ‘atrapalhado’ o trabalho de outras entidades independentes da municipalidade.

Hanssen exemplifica com a situação enfrentada pela Casa dos Cordéis, que além de ter perdido o apoio a Prefeitura com a divulgação de sua programação na agenda cultural da cidade, tem sido excluída de outras participações, como o Simpósio de Viola, que acabou sendo sediado apenas pelo Teatro Padre Bento, e a Festa de Nossa Senhora do Bonsucesso. “Há 10 anos a Casa dos Cordéis participa da programação da festa com a romaria sacro-profana, mas esse ano foi tirado do calendário”, comentou o escritor.

Segundo o poeta e folclorista fundador da Casa dos Cordéis, Bosco Maciel, a romaria acontece mesmo sem apoio no dia 28 de agosto, com concentração no Trevo de Bonsucesso, às 9h. O artista, que também é funcionário público disse que realmente tem sofrido perseguição e que por conta disso deve pedir demissão do cargo público. “É uma situação insuportável”, disse.

O ator Franklin Jones denuncia ainda a perseguição a funcionários públicos, comissionados e concursados, que assinaram o abaixo assinado da TAZ em prol da Lei de Fomento ao Teatro e a Dança. “Exigiram que tirassem os nomes do documento. Alguns estão sofrendo processo administrativo”, afirmou.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...