domingo, 7 de agosto de 2011

Um homem roubado nunca se engana


 "Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells"
Time - Pink Floyd

Antes de chegar em casa, um cara veio pra cima de mim. É claro que fui obrigada a sacar a arma e dar um tiro na cabeça dele. Não ventava muito, então não deu pra fazer aquele olhar distante de normalidade pós miolos estourados e fingir que tava num faroeste. Matilde só olhava. 
Subi a rua, entrei em casa. Matilde aflita, foi até o quadro de ferramentas, pegou uma chave de fenda e começou a tirar os parafusos da arma. Parafusos que foram se revelando de borracha bem molinha. Compatíveis com o estado fleumático de Matilde. Fomos nos aproximando do quintal nos fundos da casa e estava lá meu pai rasgando um monte de papel velho e jogando dentro de um latão e como se não bastasse rasgá-los, botava fogo também. Matilde teve a genial ideia de ir jogando os pedacinhos que desmontou da arma pra derreter no fogo junto com os papéis. 

- Bota a mão aí no fogo pra ver se saem os vestígios do que você fez também!

Às vezes Matilde tentava ser engraçada.

Depois de tudo eliminado, inclusive a não culpa pelo tiro, fui fazer crochê.

Enquanto Matilde desatava os nós da linha velha que eu ia usar, resolvi teorizar.
Dar significado às palavras é também (ou essencialmente) uma atitude política. Portanto, meu amigo, ai de tão longe, vejamos os novos significados que andei aprendendo:

Processo colaborativo: Ações que faremos em que contaremos com sua colaboração: aceite o que será imposto e não opine, não questione. "Pois o mais importante de tudo é aprender e a estar de acordo"  [1]

Bom senso:  Bem, ora, veja bem!! Bom senso é a qualidade das pessoas que pensam igual a nós!!!! (Essa definição me foi dita um dia por um amigo e não vou ousar revelar a identidade dele para que não seja torturado pelos patrulheiros de plantão). Mas estas e outras definições estão devidamente incorporadas a nova edição de meu dicionário, para que eu não me engane novamente. Aliás, nunca me enganei. Só tive a genial ideia de testar e ver se eu estava certa mesmo. Estava. Triste.

"A infância é o tempo de acreditar em bonecas. É na infância que existem os finais felizes. Mas são muito mais necessários na maturidade os carteiros capazes de receber cartas que só um louco é capaz de escrever" Kafka e a boneca viajante - Jordi Sierra i Fabra

No próximo capítulo, Matilde escreverá uma carta, com suas próprias mãos e canetas em desuso. Digo ao Eiji que estou me esforçando ao máximo com essa preguiçosa. E digo ao Ser Estranho que por enquanto ela só observa...é incapaz de responder perguntas.

Matilde


http://www.ofabulosodestinode.blogspot.com/

*[1] Aquele que diz Sim, Aquele que diz Não - Brecht -

Um comentário:

Anônimo disse...

Metáforas que se encaixam em qualquer contexto.

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