sexta-feira, 16 de novembro de 2012

UMA FOLHA DE SULFITE E A INSTABILIDADE DE UM GOVERNO - RELATO DE UMA AÇÃO EM DOIS


Na véspera da eleição para o 2º turno em Guarulhos, dois militantes integrantes de um grupo contemplado pelo FUNDO MUNICIPAL DE CULTURA, foram para uma reunião agendada por um vereador reeleito que contaria com a presença do atual prefeito e então candidato à reeleição. Percebendo a demora de sua presença na reunião e sabendo que no mesmo dia e horário haveria uma plenária do Partido dos Trabalhadores na Avenida Esperança (Nome sugestivo), resolveram antecipar-se e, na tentativa de uma breve conversa com o prefeito, seguiram para o endereço em questão. A rua estava fechada e ocupada pelos militantes e por um caminhão palco já com a presença de alguns candidatos eleitos, do Deputado Estadual Alencar Santana, da liderança do partido, apoiadores de coligações e o próprio prefeito.

Os dois, vendo que seria difícil conseguir atenção do prefeito, escreveram em uma folha de sulfite os seguintes dizeres: “Prefeito cadê o $$$ do Funcultura??”. Com esta “placa” em mãos seguiram entre os militantes até a frente do palco. E, para perguntas de pessoas que vestiam o vermelho e bradavam apoio ao então candidato a reeleição, a resposta era: “Somos artistas e até agora não recebemos a verba que nos é garantida por direito” – “Viemos cobrar o prefeito sobre a verba que até agora não foi paga” – “Você sabe onde está? Nem eu?”.  Então, os dois militantes da cultura foram avançando até a frente do caminhão palco e, chegando lá, encontraram militantes de um sindicato que vestiam preto e que, logo de inicio se incomodaram com a pequena manifestação de cobrança ao prefeito que focava o palco.

Diante de algumas tentativas de intimidação, esses senhores empurraram e batiam com suas bandeiras nos dois e entre conversas e desavenças, um deles retirou a “placa protesto”, amassou o papel e jogou fora. Sendo questionado pela atitude de pessoa ligada a um sindicato, acostumado a reivindicações, um pequeno tumulto tomou conta da plenária e ameaças de espancamento: “Sua sorte é que estamos aqui, reza para eu não te encontrar fora daqui” – “Melhor vocês saírem. É melhor para vocês” – “Vocês vão apanhar aqui”. Enquanto palavras de ameaças eram proferidas empurrões e tentativas de retirada do local eram feitas, alguém no microfone pediu calma. Mas, enquanto isso outras ameaças foram ditas e, quando retrucados sobre a possibilidade de chamarem a polícia, respondiam: “A polícia está com nós. A polícia é PT”.

Depois de algum empurra-empurra, alguém no caminhão começou a dizer que a oposição estava na frente do caminhão tentando desestabilizar a plenária, mas que esta atitude era o desespero de quem estava com medo de perder a eleição. Todos do caminhão tinham conhecimento da placa, pois ficou bem visível a todos. (Consideramos uma atitude irresponsável de quem estava ao microfone com tais palavras).

Depois um militante do PT, foi “apartar” a movimentação, chamando ambos para uma conversa fora e, depois de expor as questões que motivaram esta ação, fez menção de uma conversa com o prefeito, para que o mesmo desse uma posição aos artistas.

Entre esperas e olhares dos militantes do sindicato, Adriana Farias apareceu, segundo ela, a pedido do prefeito para entender melhor os fatos e acalmar os anseios dos artistas sobre o Funcultura.

Ao término da plenária, Adriana informou-lhes que o prefeito iria falar com eles e, na aproximação do prefeito, um grupo de militantes do sindicato encostou-se nos dois, reafirmou as ameaças e começou a impedir a fala com o prefeito. – “Vocês não vão falar com o prefeito, é melhor vocês saírem daqui, senão o negócio vai feder para vocês” - “Saiam daqui é o melhor que vocês fazem”.

Quando um dos artistas relatou as ameaças à Adriana, o militante do sindicato logo retirou a fala. O artista foi enfático ao afirmar que eles estavam, sim, ameaçando e no término da fala do artista à Adriana, começaram novamente os puxões e empurrões e a gritaria retornou. Ambos os artistas e a própria Adriana foram ameaçados, entre os pedidos de calma do prefeito que, ao estender sua mão ao artista, ouviu dele o que realmente estava acontecendo. “Prefeito, somos artistas. Estávamos aqui com uma placa cobrando do Senhor o pagamento do Funcultura”. A Resposta: “Pode deixar: eu cuidarei pessoalmente disso na semana, é o meu compromisso com vocês”, sendo logo puxado pelos “companheiros”.

Os dois artistas foram abordados por alguns dos militantes do sindicato. “Você me disse sobre sermos do sindicato, só que quando queremos falar ou reivindicar algo, marcamos com o patronal. E não chegamos assim, sem avisar ou marcar nada, invadindo” Resposta dos artistas “Vocês conseguem agendar uma conversa com o prefeito quando desejam reivindicar algo? Faz tempo que estamos fazendo cobranças sobre este Fundo, já tentamos várias conversas e não conseguimos”. Outro militante abordou dizendo que deveriam ter avisado que eram artistas, pois pensavam que era a oposição. Os artistas responderam que isto era dito toda hora, mas que eles nem queriam ouvir. Outro apareceu fazendo novas ameaças.

Estes artistas saíram acompanhados da Adriana até certa distância da plenária na tentativa de não serem seguidos e possivelmente agredidos.

Perguntamo-nos: se este episódio tivesse a presença de todos os contemplados do Fundo? E se artistas da cidade, buscando a transparência nos investimentos da cultura, tivessem se mobilizado com os contemplados, o que aconteceria? Dois militantes provocaram alvoroço. O que não seria se a massa artística guarulhense estivesse presente?

Resta saber se nesta cidade cobranças, questionamentos e/ou críticas serão censurados ou até mesmo “castigados”.  Se isso virar prática podemos realmente dizer que vivemos em uma ditadura branca, agenciada por um governo que grita aos quatro ventos sua luta contra a ditadura militar. Moldes foram aprendidos e repaginados.

P.S Este relato é a forma que encontramos para garantir a integridade dos Artistas. Ameaças foram feitas e precisam ser reveladas.

Taz Guarulhos

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